Debate sobre ozonioterapia causa divergências em comissão

O debate sobre uso da ozonioterapia como tratamento complementar para a Covid-19 no Brasil foi marcado por divergências, nesta quinta-feira (9), em videoconferência da comissão externa da Câmara dos Deputados que trata do enfrentamento da doença.

De um lado, médicos defensores da terapia argumentaram que ela pode evitar o agravamento da situação do paciente e reduzir seu tempo de internação. Entre os que discordam, o argumento é o de que não existem evidências científicas sobre sua eficácia.

A ozonioterapia é uma técnica que chegou há 46 anos ao Brasil e consiste na aplicação, no paciente, de uma mistura dos gases oxigênio (95%) e ozônio (5%) para tratamento, de modo isolado ou complementar, de patologias como câncer, doenças virais, hérnias de disco, queimaduras e dores articulares. Quem defende lembra que a ozonioterapia é utilizada em diferentes países e aponta seus benefícios no corpo.

“O ozônio é um potente anti-inflamatório, melhora a imunidade, a oxigenação dos tecidos. A gente não vê por que a contraindicação de usar ozônio. Ele tem baixo custo, pode ser feito ambulatorialmente”, defendeu, por exemplo, a presidente do Colégio Médico Brasileiro de Ozonioterapia (CMBO), Wendy Falzoni.

Na opinião dela, a técnica pode ser empregada já nos primeiros sintomas de Covid-19.

“Vai diminuir o tempo da doença e as terríveis complicações tardias. Deve ser feita com uma boa indicação, com equipamentos reconhecidos pela Anvisa, seringas adequadas”, disse também Falzoni.

Redução de custos

O diretor-presidente da Associação Brasileira de Ozonioterapia (Aboz), Arnoldo de Souza, acrescentou que há uma redução de 20% a 80% no custo do tratamento das infecções quando a ozonioterapia é incluída de forma complementar ao tratamento médico convencional. Uma sessão de ozonioterapia pode custar R$ 90. Em um exemplo trazido por ele, dez sessões sairiam a R$ 900, enquanto dez dias de internação poderiam custar mais de R$ 6 mil.

Ele disse ainda que a associação está com dois estudos em andamento no que diz respeito à Covid-19. “O desfecho que esperamos para os pacientes internados é que não venham a evoluir para UTI nem para ventilação mecânica”, disse Souza.

Sem reconhecimento

Na contramão dos defensores, o 1º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Donizetti Giamberardino Filho, ressaltou que contra a Covid-19 ainda não há nenhum medicamento efetivo e específico para o tratamento. Sobre a ozonioterapia, segundo ele, “até o momento não se consideraram as evidências científicas defendidas”. “Não há reconhecimento como especialidade médica da ozonioterapia, e ela foi considerada experimental. Pode ser utilizada na medicina em trabalhos experimentais”, esclareceu.

Autora de um projeto de lei (PL 1383/20) que autoriza a ozonioterapia como tratamento complementar para a Covid-19, a deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF) rebateu dizendo que nada em relação à doença é comprovado e, portanto, é preciso dar tranquilidade para que os médicos trabalhem.

“Na Inglaterra, vi o ozônio sendo tratado de forma tranquila. É algo fundamental que a gente encare. O ozônio tira as pessoas da fila de cirurgia, ele economiza no sistema público. É fundamental dar oportunidade e responsabilidade à classe médica. Existem estudos em países sérios que já apontam isso”, defendeu a parlamentar.

Outros deputados, porém, manifestaram dúvidas quanto ao tratamento. “Eu não consigo entender como vamos retirar alguém de repente de uma cirurgia de hérnia, de vesícula”, declarou o deputado Dr. Zacharias Calil (DEM-GO). “Você pode provocar uma embolia pulmonar”, disse ainda, lembrando que espera por evidências científicas.

“Um método que trata de mais de 200 doenças é uma coisa inédita na medicina. Trata aids, autismo, diabetes, trata isso, trata aquilo. Agora trata Covid-19”, afirmou, por sua vez, a deputada Dra. Soraya Manato (PSL-ES). Para ela, a cautela do CFM se justifica em razão de o conselho ter a responsabilidade de preservar a população.

Complementariedade

Os especialistas na terapia destacaram que trata-se de um tratamento complementar, não principal. “O ozônio não trata 200 patologias. Ele não é um remédio. É uma terapia que, ao entrar no organismo, deflagra uma série de reações em cadeia. Em todas as patologias com inflamação, o ozônio vai ajudar”, explicou a diretora científica da Aboz, Ana Cristina Barreira.

Ela também questionou se, como evidência científica, só serve o que é produzido no Brasil, quando há inúmeros trabalhos no mundo.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica, Maria Emília Serra, o que existe no País é má vontade. “Estamos falando de vidas humanas. Enquanto isso, vamos seguir todo o protocolo de fazer pesquisa. Vocês têm noção de quanto custa fazer pesquisa com 150 pacientes? Quase R$ 800 mil. É nossa responsabilidade fazer isso, algo que já foi provado em ouros países? É muito lindo dizer que vamos fazer os estudos, só que quem vai pagar?”, questionou.

Maria Emília Serra defendeu a aprovação definitiva da ozonioterapia no Brasil e do PL 9001/17, do Senado, que autoriza a prescrição da terapia em todo o País e também tramita na Câmara.

Relatora da comissão externa e do PL 9001/17, a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC) acredita que as pesquisas que estão sendo feitas podem constituir a coluna do debate.


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