Dessalinização no Nordeste anunciada por Bolsonaro ocorre há mais de 15 anos
Em Israel, 97% da água que abastece a agricultura irrigada tem origem em esgoto tratado e água de reuso. O custo da operação também seria muito alto para usar na irrigação. Isso porque 1 metro cúbico de água dessalinizada do mar custaria, em média, 1 dólar. Outro dado que demonstra o desconhecimento de Bolsonaro sobre o tema está na experiência do próprio Brasil na técnica de dessalinização extraindo água de poços.
á mais de 15 anos, pelo menos, existem projetos em curso de sistemas de dessalinização sendo implementados no semiárido nordestino utilizando técnicas adaptadas para a realidade local brasileira, com tecnologia nacional chancelada pela Embrapa.
No Rio Grande do Norte há 225 dessalinizadores instalados, a maioria em comunidades rurais, que beneficiam, em média, mais de 80 mil pessoas. Só o município de Mossoró possui 50 sistemas.
Dos 225 dessalinizadores do Rio Grande do Norte, 136 são mantidos pela secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), 69 foram instalados com recursos do programa federal Água Doce e mais 20 através do programa federal Água para Todos. Os sistemas custeados com verba da União são administrados pelas próprias populações nas comunidades. A Semarh faz apenas a manutenção e eventuais consertos.
A primeira experiência de dessalinização usando água de poços no RN foi realizada na comunidade de Caatinga Grande, região de São José do Seridó, antes do programa Água Doce. Nessa comunidade, a água já era usada na produção de tilápia e para irrigar erva sal para consumo de gado caprino.
Criado pelo Ministério do Meio Ambiente na gestão do ex-presidente Lula, o programa Água Doce já instalou 575 dessalinizadores em sete estados nordestinos, dos quais 540 estão em funcionamento beneficiando diretamente 216 mil pessoas.
Na segunda etapa do projeto Água Doce a expectativa é de que sejam instalados mais 35 sistemas. Atualmente, levando em conta apenas sistemas desse programa, o RN fica atrás apenas do Ceará e da Bahia, com 234 e 145 dessalinizadores instalados, respectivamente.
Dessalinização no Nordeste anunciada por Bolsonaro ocorre há mais de 15 anos
O anúncio do presidente eleito Jair Bolsonaro na terça-feira (25) de que enviará em janeiro, ao Oriente Médio, o futuro ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes para conhecer o projeto de dessalinização de Israel e implementar a técnica para irrigar a agricultura familiar da região Nordeste usando água de poços é um combo de propaganda enganosa e desinformação.
Em Israel, 97% da água que abastece a agricultura irrigada tem origem em esgoto tratado e água de reuso. O custo da operação também seria muito alto para usar na irrigação. Isso porque 1 metro cúbico de água dessalinizada do mar custaria, em média, 1 dólar. Outro dado que demonstra o desconhecimento de Bolsonaro sobre o tema está na experiência do próprio Brasil na técnica de dessalinização extraindo água de poços.
Há mais de 15 anos, pelo menos, existem projetos em curso de sistemas de dessalinização sendo implementados no semiárido nordestino utilizando técnicas adaptadas para a realidade local brasileira, com tecnologia nacional chancelada pela Embrapa.
No Rio Grande do Norte há 225 dessalinizadores instalados, a maioria em comunidades rurais, que beneficiam, em média, mais de 80 mil pessoas. Só o município de Mossoró possui 50 sistemas.
Dos 225 dessalinizadores do Rio Grande do Norte, 136 são mantidos pela secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), 69 foram instalados com recursos do programa federal Água Doce e mais 20 através do programa federal Água para Todos. Os sistemas custeados com verba da União são administrados pelas próprias populações nas comunidades. A Semarh faz apenas a manutenção e eventuais consertos.
A primeira experiência de dessalinização usando água de poços no RN foi realizada na comunidade de Caatinga Grande, região de São José do Seridó, antes do programa Água Doce. Nessa comunidade, a água já era usada na produção de tilápia e para irrigar erva sal para consumo de gado caprino.
Criado pelo Ministério do Meio Ambiente na gestão do ex-presidente Lula, o programa Água Doce já instalou 575 dessalinizadores em sete estados nordestinos, dos quais 540 estão em funcionamento beneficiando diretamente 216 mil pessoas.
Na segunda etapa do projeto Água Doce a expectativa é de que sejam instalados mais 35 sistemas. Atualmente, levando em conta apenas sistemas desse programa, o RN fica atrás apenas do Ceará e da Bahia, com 234 e 145 dessalinizadores instalados, respectivamente.
A meta do Governo Federal, se Bolsonaro não acabar com o projeto, é chegar a 1,2 mil sistemas de dessalinização e 480 mil pessoas atendidas.
O titular da Semarh Maírton França acredita que a ideia de Bolsonaro é difícil de ser concretizada em razão do alto custo da operação:
“Para produzir água em muita quantidade é difícil porque nos poços usados a vazão é muito pequena. Essa água (que sai dos dessalinizadores) é tão pura que usar para a agricultura não é o mais adequado. Tem que ser usada para o consumo. Israel não usa a água dessalinizada para a agricultura, 97% daquela água é de reuso”, explicou.
Há no interior do Rio Grande do Norte, inclusive, uma experiência inédita no mundo com dessalinizador à base de energia solar. O projeto piloto foi instalado na comunidade de Maria da Paz, na zona rural de João Câmara, município localizado a 81 quilômetros de Natal, e recebeu elogios de órgãos internacionais:
“Viajo o mundo todo e não acreditei que vocês conseguiram fazer o que nenhum lugar do mundo faz. Não há nada parecido com o Água Doce. O programa funciona muito bem porque a comunidade é quem opera e ama fazer essa gestão”, disse o presidente da Associação Internacional de Dessalinização, Emilio Gabbrielli, em visita à comunidade Maria da Paz, em outubro de 2017.
Maírton França conta que há mais quatro projetos de sistemas de dessalinização à base de energia solar sendo elaborados pelo Governo do Rio Grande do Norte.
Questionado sobre a importância do uso de água dessalinizada para a convivência com a seca das comunidades mais afetadas, ele destaca a oferta:
– Dentro do sistema de recursos hídricos é importante a redundância da água, você ter ofertas diferentes. Várias alternativas misturada. Então nós temos água de barragem, de poço, do mar, da chuva, água de reuso e também a água dessalinizada que contribui também para o sistema hídrico.
Governo do RN discute projeto de dessalinização com Israel desde 2015
A aproximação de um governo brasileiro com a técnica de dessalinização utilizada em Israel também não seria inédita caso Bolsonaro leve adiante a ideia de enviar o futuro ministro Marcos Pontes ao Oriente Médio.
O Rio Grande do Norte, por exemplo, conhece o projeto desde 2015, quando em missão do programa Governo Cidadão, pelo Banco Mundial, o titular da Semarh Maírton França esteve em Tel A Viv para fazer justamente o que Bolsonaro avisou que Marcos Pontes fará em 2019, só que mais de três anos depois.
Nesse período, o embaixador de Israel no Brasil esteve em Natal (RN) em pelo menos duas oportunidades falando sobre o projeto, que está parado em razão do alto custo. O projeto piloto seria instalado em Macau e atenderia quatro municípios: Macau, Guamaré, Pendências e Carnaubais.
França acredita que o projeto teria um custo menor hoje, mas voltou a ressaltar que, para a agricultura irrigada, a melhor alternativa é a água de reuso, como faz Israel:
– Temos esse projeto piloto, o sistema de Macau. Protocolei o projeto no Ministério da Integração Nacional, mas está parado em razão do alto custo, R$ 75 milhões na época. Tentei até incluir esse projeto no contrato do financiamento do Banco do Mundial, mas não foi possível. Hoje seria mais barato porque há uma tecnologia mais acessível, acho que ficaria entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões. E há um acordo comercial dos países do Mercosul com Israel facilitando a importação de dessalinizadores. No nosso projeto, a dessalinização ocorreria retirando água do mar por meio de poços. Em Israel a água do mar entra direto num sistema.
O Ceará é o único estado do país que tem uma licitação aberta para a contratação do sistema semelhante. No Rio Grande do Norte, o município de Guamaré também chegou a abrir licitação para adquirir dessalinizador nesse modelo, mas o processo está parado.
“O que o governo de Israel quer é vender os equipamentos para o Brasil”, sugere senador do RN
O futuro senador pelo Rio Grande do Norte Jean Paul Prattes (PT) criticou a informação divulgada por Jair Bolsonaro e a cobertura de parte da imprensa no episódio. Pelas redes sociais, o parlamentar que assume uma cadeira no Senado a partir de 1º de fevereiro no lugar da governadora eleita Fátima Bezerra afirmou que o projeto esconde uma questão econômica:
– O governo de Israel quer é, como muitos (legitimamente), vender os equipamentos para o Brasil, mas devemos estar atentos a custos superiores aos concorrentes ocidentais, latino americanos e até brasileiros, que já montam esse tipo de equipamento aqui. De toda forma, falta ao Bolsonaro a informação precisa do que nós nordestinos realmente precisamos, e isso só pode vir quando ele deixar as bandeiras de lado e entender que a nação é feita de pluralidade.
Segundo ele, não há nenhuma novidade tecnológica que Israel tenha em dessalinização que esteja à frente do que já se aplica no Brasil, em parâmetros de viabilidade para a realidade local.
“Na verdade, a dessalinização já existe no Brasil desde os anos 60, e essa tecnologia tornou-se ainda mais acessível a partir de 2003, com o Programa Agua Doce – tornando a água produzida cada vez mais barata em comparação com outras formas de captação”, disse.
Confira postagem de Jair Bolsonaro sobre a parceria Brasil-Israel
Fonte: Saiba Mais
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